Esta semana, na Rodovia Ayrton Senna, Estado de São Paulo, começou o projeto-piloto de um pedágio de fluxo livre, o free-flow. A tecnologia permite que o viajante pague o pedágio de maneira proporcional aos quilômetros percorridos, mas sem que precise parar nas praças de cobrança. Mesmo que ainda existam desafios a contornar, essa deve ser uma tendência que vai se acelerar no Brasil a partir de agora.
O que é o sistema free-flow
O pedágio de fluxo livre, ou free-flow, é uma modalidade de billing que elimina a necessidade de praças de cobrança e, assim, possibilita o pagamento proporcional da tarifa de acordo com a quantidade de quilômetros rodados.
Em 2021, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) recebeu uma alteração que criou a possibilidade de implementar esses sistemas de livre passagem nas estradas brasileiras e em vias urbanas — como já acontece em dezenas de países.
O free-flow reduz significativamente o custo e o impacto da construção de praças de pedágio, além de contribuir para melhorar a fluidez do trânsito, a segurança viária e o conforto dos usuários.
Vale ressaltar que, há cerca de 10 anos, o Ponto a Ponto, versão rudimentar do modelo que começa a ser testado, foi implantado em algumas rodovias brasileiras. O sistema, porém, funciona apenas para condutores cadastrados na concessionária — e depende de um dispositivo eletrônico distribuído aos usuários.
A tecnologia do sistema free-flow
Diferente do Ponto a Ponto, porém, o free-flow traz grandes avanços tecnológicos que proporcionarão mais competitividade para a economia brasileira — melhorando, assim, a infraestrutura e a logística.
O sistema funciona a partir de sensores que fazem o cálculo da tarifa por quilômetro rodado e, assim, elimina a necessidade de paradas dos motoristas em praças de pedágio — reduzindo o tempo e o custo das viagens.
Além dos sensores, o sistema conta com câmeras que possuem tecnologia de leitura de placas para reconhecimento dos veículos em tempo real, sem a necessidade de parar ou reduzir a velocidade de tráfego.
O free-flow também se integra a diversos sistemas de cobrança automática. É possível, por exemplo, integrá-lo a antenas, instaladas em pórticos e viadutos ao longo da rodovia, que identificam tags em veículos. A cobrança, assim, é realizada automaticamente — ou seja, durante a passagem sob o pórtico ou viaduto.
Já os motoristas que não possuem tags pagariam diretamente por meio de uma conta digital, por exemplo, ou receberiam uma cobrança posterior por correio, e-mail, WhatsApp ou SMS. O tráfego desses veículos na rodovia pode ser aferido com o uso de câmeras com leitura de placas, instaladas ao longo da rodovia, que geram relatórios dos trechos percorridos por cada placa veicular.
Outra possibilidade é integrar sistemas para leitura automática de veículos de carga, aspecto que simplificaria e agilizaria processos e trâmites burocráticos. Com o novo DT-e (Documento de Transporte Eletrônico), que vem sendo desenvolvido pelo governo federal, as paradas e fiscalizações seriam mais simples e rápidas aos transportadores — além de, digamos, livres de “jeitinhos” e “custos indexados”.
Vantagens da implantação do pedágio free-flow
A vantagem que mais salta aos olhos é a possibilidade de criar um sistema tarifário mais justo. Ou seja, quem usa pouco paga pouco, quem usa a estrada com mais frequência paga um pouco mais. O sistema é, portanto, uma grande quebra de paradigma — e um acelerador da transformação das concessões e do setor de transportes e logística.
Também é possível, por exemplo, registrar excessos de velocidade, além de coletar informações como número de veículos deslocados, origens, destinos, velocidade média e outras informações úteis para a gestão operacional e o planejamento.
O free-flow deverá, assim, contribuir muito para equacionar gargalos logísticos, reduzir o tempo de transporte, melhorar o planejamento logístico e aumentar a segurança, além de reduzir custos e os impactos no meio ambiente, das construções de praças à emissão de gases (que será menor sem tantas acelerações e desacelerações).
Desafios do sistema de livre passagem
Como toda quebra de paradigma, o free-flow tem seus desafios, que são menos tecnológicos e mais estruturais — e até culturais ou comportamentais:
- De acordo com a ABCR (Associação Brasileira dos Concessionários de Rodoviárias), apenas 30% das pessoas realizam pagamentos automáticos — enquanto 70% pagam, em dinheiro e cartão, na cabine da praça de pedágio;
- É necessário contar com uma tecnologia precisa, ou melhor, múltiplas tecnologias, para fazer a correta identificação e classificação de veículos numa pista livre, sem a separação física das faixas (como em uma praça de pedágio) e com veículos em movimento;
- Da mesma forma, a tecnologia precisa ser pensada para evitar fraudes e evasão de tarifas. Novamente, é preciso identificar o veículo e fazer contagem de eixos, por exemplo, com acurácia;
- A malha rodoviária extensa e heterogênea é um complicador. Um veículo pode passar por estradas locais, estaduais, federais, privadas e públicas. O billing e as compensações podem trazer complexidade à operação;
- Padrão tecnológico – o free-flow pode ser viabilizado com leitores de placa, câmeras inteligentes, sensores, leitores de tag, aplicativos móveis e outras tecnologias. Ou seja, será mais viável e terá menos custos dependendo da modelagem, definição e homologação dos órgãos reguladores.
Rodar sem precisar parar em praças de pedágios ou reduzir a velocidade nas cancelas é um desejo dos brasileiros e a realidade de muitos países há algum tempo. Na América Latina, por exemplo, o Chile é o único país a utilizar o free-flow. A experiência chilena nos últimos dez anos (quando o sistema foi implementado no país), vale destacar, mostra um alto grau de satisfação dos usuários.
De qualquer forma, o modelo chegou para ficar. E vai deslanchar para modernizar as rodovias e melhorar o setor de transportes. Já temos a tecnologia à disposição. É viável. E é fundamental. Agora resta dar as mãos a um parceiro especializado em operações rodoviárias — como a Teltex — e planejar bem esse roadmap. Fale conosco!